quarta-feira, 26 de março de 2008

Introdução

Este blog tem por objetivo atender a uma das exigências da disciplina Ensino de Geografia e Estágio de Vivência Docente, ministrada pela professora Rosely Archela e no qual, contara com as atividades desenvolvidas durante o ano de 2008. As atividades são de diferentes naturezas e por isso, serão alocadas nas postagens (links) já definidas para melhor visualização e identificação dos trabalhos.

Artigos e Textos Elaborados

Atividade 1: Questões referentes ao PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais)

1- 1 - O que são os PCNs?

É um instrumento de auxílio ao professor no intuito de ampliar o horizonte dos alunos, ou seja, inseridos no sistema capitalista – num mundo competitivo e fazer refletir sobre as possíveis mudanças.

2- 2 - Quais são os conteúdos propostos?

Irá depender da disciplina com seus conteúdos específicos, além dos temas transversais, ou seja, uma interação entre as disciplinas eliminando dicotomias.

3 - 3 - Quais as formas sugeridas?

Uma delas são a associação teórica e prática e aproximação que se ensina na sala de aula do mundo real, no que tange a realidade do aluno.

4- 4 - Quais as terminologias (Geografia) adotadas?

São os conceitos como: espaço, paisagem, território, região, lugar, regionalização etc.

5- 5 - Identifique a escola geográfica?

É pelo viés da Geografia Crítica, através da corrente do materialismo histórico e dialético (marxista) objetivando relações de trabalho, classes, desigualdade social entre outros.

É necessário enfatizar que não existe distinção entre Geografia Física e Humana, ou seja, são unificados a Geografia é uma só cabe ao professor fazer a ligação da dualidade (sé é que existe?) e relacionar os conteúdos de ambas.

Atividade 2: Questões referentes aos temas transversais no PCNs.

1 – De acordo com os PCNs o conceito de transversalidade não se reduz a interdisciplinaridade. Comente esta afirmação. Apresente 1 proposta de trabalho, a partir dos temas transversais.

Não se reduz a interdisciplinaridade, pois os temas transversais fazem parte de um conteúdo que transcede todas as disciplinas, ou seja, é uma forma do conhecimento evoluir com as contribuições específicas das outras disciplinas tornando-se transdisciplinar. (Meio ambiente: questões políticas, históricas, econômicas, ecológicas e geográficas)

2 – Quais são temas transversais?

Os temas transversais são: ética, saúde, orientação sexual, pluralidade cultural, trabalho e consumo e meio ambiente.

3 – Qual a fundamentação teórica e metodológica para a área de Geografia do PCN?

Apresentam-se duas: a Geografia Crítica – materialismo histórico e dialético; Geografia Humanista – fenomenologia.

PORTFÓLIO

O recurso portfólio tem diversas origens e variados usos em diferentes áreas do conhecimento, nesse sentido explica as suas diferentes origens sendo um recurso utilizado principalmente nas áreas de administração, marketing, economia e nas artes em geral como proposta de apresentação de trabalho ou de produtos visando uma melhor qualificação do trabalho e/ou aceitação de um produto, no qual condicionam aspectos como desenvolvimento, experiências realizadas, análise e evolução de um projeto, ou seja, é uma ferramenta ao qual se assemelha a um currículo identificando experiências ao longo dos anos.

O portfólio enquanto ferramenta pedagógica tem sua utilização recente podendo ser descrito, como aponta GONÇALVEZ, ano 200?:

“como uma coleção organizada e planejada de trabalhos produzidos pelo(s) aluno(s), ao longo de um determinado período de tempo, de forma a poder proporcionar uma visão alargada e detalhada da aprendizagem efectuada bem como das diferentes componentes do seu desenvolvimento cognitivo, metacognitivo e afectivo. Reflecte também a identidade de cada aluno, de cada professor, em cada contexto, enquanto construtores do seu desenvolvimento ao longo da vida. Permite uma verdadeira avaliação contínua”.

Nesse sentido, ao qual nos interessa como estudantes do curso de licenciatura em Geografia, o portfólio se apresenta como uma ferramenta útil para avaliação e um recurso didático que vem a somar como recurso para dinamizar as aulas, como a variedade e disponibilidade de recursos aumentam a gama para a prática educacional e nesse contexto, o portfólio parece ser um dos meios possíveis para diversificar o processo de ensino-aprendizagem e como salienta ANDRADE e GONÇALVES, 2006, p. 3:

“Trata-se de uma ferramenta pedagógica que permite a utilização de uma metodologia diferenciada e diversificada de monitorização e avaliação do processo educativo, não escurando a atenção ao relacionamento humano. O carácter compreensivo desta ferramenta, de registo longitudinal, permite detectar dificuldades e intervir em tempo útil no processo de aprendizagem, ajudando o aprendente. Possibilita, ainda, a compreensão tanto da complexidade, como da evolução do saber pessoal e valoriza a reflexão sobre o processo de aprendizagem, aprofundando, deste modo, o auto-conhecimento”.

Apesar de uma origem para outros fins, o portfólio adaptado como recurso pedagógico pode ser um meio de melhoria em relação à qualidade do ensino, principalmente na disciplina de Geografia em que apresenta conteúdos variados e interligados da realidade. A seguir, será apresentado um quadro em exemplifica o recurso do portfólio no ensino básico e superior, como uma ferramenta útil para desenvolver o conhecimento.

Quadro 1: Estrutura do Portfólio educação Fundamental/médio

Estrutura do Portfólio Pedagógico

Ensino Fundamental

Possível Índice

Descrição

Identificação

Dados pessoais / carta de apresentação ao professor

Plano de Aprendizagem

Plano de aprendizagem com os itens estudados que constam dos sumários

Trabalhos da Aula

Trabalhos feitos na aula (que o professor recolhe, com a respectiva correcção de erros e reformulação, o que inclui passaro trabalho a limpo)

Trabalhos de Casa

Trabalhos de casa (com respectivas correcções)

Trabalhos de Desempenho

Todos os trabalhos de avaliação de desempenho oral e escrito - 1 teste com respectiva correcção

- actividades de compreensão (oral e escrita)

- actividades de produção de texto escrito (diálogos, composições)

- registo de intervenção oral preparada

Outros Trabalhos

Trabalhos que o aluno faça para melhorar: quer por iniciativa própria quer recomendados pelo professor

Reflexões

Reflexão escrita sobre a aprendizagem. Autoavaliação no final de cada período

Comentários

Comentários do Professor Respostas do aluno aos comentários do Professor Comentário do Enc. de Ed. ao Portfolio (pelo menos no final de cada período)

Estrutura do Portfólio Pedagógico

Ensino Médio

Possível Índice

Descrição

Identificação

Dados pessoais / carta de apresentação ao professor

Plano de Aprendizagem

Plano de aprendizagem com os itens

estudados que constam dos sumários e

outros que o aluno tenha estudado com

vista à progressão na aprendizagem

Trabalhos dentro de cada domínio

de referência (pode fazer-se uma secção para cada domínio)

Trabalhos realizados na aula,

(recolhidos pelo prof.) de pesquisa ou

de consolidação de estruturas para o

tratamento de cada domínio de

referência

Trabalhos de Casa

Trabalhos de casa (com respectivas correcções)

Trabalhos de Desempenho

- aula (escritos e orais)

- extra aula (leitura

extensiva e compo-

sições)

Todos os trabalhos de avaliação de

desempenho oral e escrito 1 teste com

respectiva correcção actividades de

compreensão (oral e escrita)

actividades de produção de texto

escrito registo e comentários aos textos

de leitura extensiva composições com

respectivas correcções e reformulações

Outros Trabalhos

Trabalhos que o aluno faça para melhorar: quer por iniciativa própria quer recomendados pelo professor

Reflexões

Reflexão escrita sobre a aprendizagem. Autoavaliação no final de cada período

Comentários

Comentários do Professor. Respostas do aluno aos comentários do Professor. Comentário de outra pessoa ao portfólio (pelo menos no final de cada período)

Adaptado por: Rennó, A. N.

Fonte: Lurdes Gonçalves, 2005. Disponível em: http://portfolio.alfarod.net/materiais.php

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Ana Isabel; Gonçalves, Maria de Lourdes. Plurilinguismo e Portfólio: um desafio curricular de articulações de saberes. Disponível em: http://portfolio.alfarod.net/doc/artigos/7.Plurilinguismo_e_Portfolio_2006.pdf >. Acesso em: 27 de maio de 2008.

PORTFÓLIO UMA FERRAMENTO PEDAGÓGICA. Disponível em: <

http://portfolio.alfarod.net/materiais.php >. Acesso em: 27 de maio de 2008.

Artigo da Oficina de Estágio de Vivência e Prática Docente

A Violência Urbana Tratada em Sala de Aula:

Uma Abordagem para o Ensino de Geografia[1]

Resumo

O estudo se refere as abordagens necessárias para se trabalhar com a questão da violência urbana em sala de aula, mais precisamente no Ensino de Geografia.

Discorrer brevemente sobre a questão da urbanização e da violência urbana vem a ser de extrema importância, uma vez que dará subsídios teóricos para podermos discutir de forma coerente esse fenômeno.

Contudo, o que interessa vem a ser o fato da prática escolar, uma vez que esse estudo se dará como uma ferramenta para se levar em sala de aula as territorialidades da violência urbana e como que os alunos vêem a violência no espaço geográfico.

Assim, proporemos uma série de formas a se levantar esse tema em sala de aula, a partir de ferramentas pedagógicas, reportagens de jornais e a expressão que a cultura e a violência urbana são retratadas em suas territorialidades.

Palavras-Chave: Violência Urbana, Território, Ensino de Geografia, Ferramentas Pedagógicas

Objetivo

O estudo que estamos apresentando é parte integrante das atividades acadêmicas desenvolvidas junto à disciplina Ensino de Geografia e Estágio de Vivência Docente, no qual parte da construção de uma oficina, cuja temática aborda a violência urbana.

O tema da violência urbana representa uma temática bastante complexa na contemporaneidade isso se explica principalmente devido a desigualdade sócio-espacial decorrente de um maior respaldo dado à economia em detrimento ao social, nesse sentido quais as contribuições pertinentes a Geografia para reverter ou amenizar esse agravante? Como o Ensino da Geografia poderia abarcar essa temática e assim elencar a disciplina para cumprir o papel na formação de cidadãos críticos?

Em nosso entendimento a Geografia com seus conteúdos específicos revelam uma via de interpretação e intervenção sobre a violência urbana, contudo, em conjunto com as outras ciências, num processo de interdisciplinaridade aumentando sua capacidade de abrangência dentro do temário violência urbana.

Referencial Teórico

Com o crescimento da violência urbana nas cidades brasileiras, não podemos negar que esse fenômeno causa uma espacialidade, principalmente no que se refere às formas que a violência cria o seu território.

Partindo dos conceitos de localização e distribuição espacial é que Moreira (1997) define as práticas espaciais como relações contraditórias com a alteridade, sendo que a localização e a distribuição garantem o caráter geográfico da configuração do espaço materializada pelas práticas espaciais que ocorrem nas sociedades. Assim, podemos definir que as ações de localização e distribuição constituem-se em princípio ontológico da construção do espaço (MOREIRA, 2002, p. 73).

Mas qual a relação entre espaço e território? Para essa questão, Moreira afirma que:

“... com o recorte, nasce o território. O recorte espacial é o princípio do conceito do território: o recorte qualificado por seu sujeito (o corpo). Qualificado como domínio do seu sujeito – o sujeito do recortamento -, cada recorte do espaço é um território. De modo que falar da relação entre espaço e recorte é uma forma teórica geral de falar da relação entre espaço e território”. (MOREIRA, 2006, p. 79)

Portanto, quando uma localidade fica conhecida como um lugar violento, ou seja, uma rua, um bairro ou uma praça que deva ser evitada de forma a garantir que não seja vítima de algo indesejável, essa localidade está configurada como um território.

Segundo Moreira (2001, p. 11) “[...] a urbanização é manifestação mais clara da mobilidade do espaço. De certo modo, por ela começa daí generalizando-se para todo o arranjo.” De acordo com o mesmo autor a urbanização comprime os espaços, por isso, o tecido do espaço se espessa socialmente, aumentando suas tensões estruturais. Assim, quanto mais denso, mais tenso (Op. cit., p. 12-14).

O que temos, vem a ser um espaço desigual e altamente populoso, onde as pessoas têm que conviver umas com as outras, cada vez mais se individualizando em busca de alcançar as suas expectativas, (re) produzindo um espaço urbano desigual. (VENTURELLI, 2008, p. 11)

O território da violência, por ser um lugar em que não se possa conviver em total desatenção, ou mesmo um lugar que deva ser evitado, acaba por se configurar como um território negado pela sociedade. Assim, os territórios da violência, se enquadram no que afirma Moreira (2002, p. 101), a ser um contra-espaço.

“O Contra-Espaço é o modo espacial por meio do qual, excluídos e dominados põem em questão a ordem espacial instituída como forma de organização da sociedade, rejeitando ou copiando o modo de vida que ela impõe aos que vivem embaixo e dentro dela. Pode ser contra-espaço um movimento de confronto, de resistência, de mimetismo ou de simples questionamento da ordem espacial existente.” (MOREIRA, 2002, p. 101)

O contra-espaço, ou seja, como estamos trabalhando com os territórios da violência, acabam por ser um arranjo espacial que se configuram de forma mais eminente perante a sociedade, uma vez que o fato de se negar um território, faz com que suas relações de poder se fortaleçam, pois, se conhece o fato de evitar esse território, mas outros mais seguros, sequer são conhecidas suas espacialidades.

O contra-espaço o arranjo espacial de uma greve ou uma insurreição de operários, uma ocupação de terra com fim de assentamento rural, uma favela como forma de movimento de ocupação-assentamento urbano, mas também um ritual de capoeira ou de candomblé, como também um modo individualizado e recluso de morar”. (MOREIRA, 2002, p. 101)

Para Santos, a cidade tem um papel especial em relação a sua socialização quanto a forma de contato pessoal mais intenso, sendo que:

“A cidade é o lugar onde há mais mobilidade e mais encontros. A anarquia atual da cidade grande lhe assegura um maior número de deslocamentos, enquanto a geração de relações interpessoais é ainda mais intensa. O movimento é potencializado nos países subdesenvolvidos, graças à enorme gama de situações pessoais de renda, ao tamanho desmesurado das metrópoles e ao menor coeficiente de ‘racionalidade’ na operação da máquina urbana.” (SANTOS, 2004, p. 319)

Quanto aos espaços de tensão, temos que toda constituição geográfica da sociedade começa na localização espacial dos elementos de sua estrutura (MOREIRA, 2002, p. 72).

Como afirma Moreira (2006, p. 74), em qualquer sociedade a coabitação é o conteúdo da convivência espacial dos homens, sendo esta uma coabitação por consenso ou por coerção de classes. Assim:

“Dada a característica tensional do espaço, a coabitação é uma relação de convivência tensa. O viver com pede uma espécie de contrato, um pacto com a qual nem sempre se confunde o ordenamento. Pode-se ordenar para uma coabitação não consensual que desemboque no conflito do dissenso”. (MOREIRA, 2006, p. 75)

Dessa forma, a tensão espacial pede uma regulamentação e essa vem na forma de ordenamento do território. Durante toda a obra, fica claro que o espaço de cada um dentro do quarto é respeitado pelo outro. Contudo, os embates vêm a ser pela a hegemonia total, mas sempre respeitando o espaço do outro na sua presença. Em função de que não há a possibilidade de coabitação de hegemonias o processo vai se resolver pela vitória de um dos dois lados da contenda. (MOREIRA, 2001, p. 8).

Portanto, podemos definir que a sociabilidade é:

“... o todo formado por integração das esferas inorgânica, orgânica e social, realizada pelo metabolismo do trabalho e orientada no sentido do salto de qualidade da história natural da natureza (em que se inclui o homem-natureza) para a história social do homem (em que a ‘primeira natureza’ se transfigura em ‘segunda-natureza’). [...] é assim um conceito centrado do trabalho do homem, [...] o trabalho visto na sua acepção ontológica [...] de hominização do homem pelo próprio homem através do trabalho, segundo a concepção de história de Marx” (MOREIRA, 2005, p. 95-96)

Como afirma Santos, a cidade é:

“Palco de atividade de todos os capitais e de todos os trabalhos ela pode atrair e acolher as multidões de pobres expulsos do campo e das cidades médias pela modernização da agricultura e dos serviços. E a presença dos pobres aumenta e enriquece a diversidade socioespacial, que tanto se manifesta pela produção da materialidade em bairros e sítios tão contrastantes, quanto pelas formas de trabalho e de vida.” (SANTOS, 2004, p. 232)

Dessa forma, trabalhar com alunos como que se constroem os territórios da violência, abre parâmetros para uma série de interpretações. Desde os seus entendimentos de como que se configuram esses territórios.

E também permite verificar como os pobres se inserem na cidade, seus hábitos e a maneira de viverem e (re)produzirem espaços que são marginalizados por serem identificados como locais da “bandidagem”, facilmente tratados com preconceito, daí serem vistos como um lugar perigoso ou que precisa ser reaproveitado, revitalizado, como os centros das grandes cidades brasileiras. Dessa maneira, verifica-se o processo de expulsão dos grupos marginalizados para áreas cada vez mais distantes do lugar de trabalho. Tornando a rotina do pobre um verdadeiro calvário, sobretudo pela dificuldade de deslocamento da casa para o trabalho.

Contudo, Santos afirma que:

“Ao contrário do que deseja acreditar a teoria atualmente hegemônica, quanto menos inserido o indivíduo (pobre, minoritário, migrante...), mais facilmente o choque da novidade o atinge e a descoberta de um novo saber lhe é mais fácil.” (SANTOS, 2004, p. 330)

Metodologia

Entendemos que a construção do cidadão trata-se uma responsabilidade que não abarca só o Ensino de Geografia, mas sim todo um aparelho de Estado que por sua vez legitima esse direito, mas que negligência à maior parte do que entendemos como cidadão, inviabilizando ou dificultando suas práticas sociais, contribuindo para o processo de violência urbana. No entanto, a cidadania é um processo evolutivo de aprendizagem e tornando assim o indivíduo um detentor consciente de seus direitos, ou seja, expressando sua liberdade conquistada e garantida.

Nesse ponto, serão detalhadas as formas que foram encontradas para se levar à sala de aula a questão da violência urbana, de forma que façam com que os alunos se identifiquem com essa realidade, uma vez que a pretensão dessa ferramenta de ensino também tem uma territorialidade.

A territorialidade levantada agora, se dá no que a pretensão de se tratar a violência urbana em sala de aula, pode ser trabalhada com alunos em que vivam esse objeto de estudo, ou seja, alunos que convivam e que entendam como que ocorre o processo de territorialidade da violência.

Uma forma do Ensino de Geografia contemplar o assunto é apresentada por RODRIGUES, (2007, p.77) através de aspectos assim abordados:

a) apresentar dados sobre a violência, em geral, nas cidades. Esses dados aparecem, cotidianamente, em todos os meios de comunicação. São conhecidos ainda que parcialmente e sem um estudo especializado. Pensar em como agrupá-los e analisá-los pode ser a nossa contribuição; b) mostrar a concentração da violência contra a pessoa em determinados segmentos sociais, em tipos característicos, revelando que esta é sempre noticiada nos diversos meios de comunicação; e c) apresentar as violências contra as propriedades pessoais lembrar-se de que o direito à propriedade pessoal ou aos meios de produção encontra-se na constituição no âmbito de direitos e deveres.

Dessa forma, primeiramente iremos trabalhar com a questão do mapeamento da violência urbana.

Para a elaboração dessa ferramenta, foi pensado de forma a ajudar no processo de entendimento das ocorrências de violência urbana, uma proposta primeiramente, de construção de um mapa temático dos pontos de violência a partir da leitura de jornais.

A construção desse material se inicia com uma aula expositiva sobre a temática tratada, de forma que se proporcione uma elucidação conceitual. Mas também um debate sobre a questão da violência urbana, de forma que seja compreendida por parte dos professores, como que os alunos vivenciam este.

Dessa forma, para uma segunda aula, será necessário que os alunos tragam reportagens de jornais locais, nesse caso da cidade de Londrina, para que possamos entender as localidades em que as ocorrências noticiadas pela mídia impressa aconteceram.

Com base no levantamento das ocorrências de episódios de violência urbana, que podem ser deste simples furtos, até homicídios e seqüestros. Será preciso distribuir a grupos formados por 3 ou 4 alunos alguns materiais, que correspondem a:

  • Mapa elaborado pela Secretaria de Meio Ambiente do Município de Londrina, intitulado “O Rio da Minha Rua”, disponível nas escolas públicas;
  • Canetas Coloridas, a fim de criarem legendas para cada ocorrência;

Assim, podemos partir para a construção de um Mapa Temático da Violência Urbana de Londrina, baseado nas informações do senso comum, trazidos pelos próprios alunos.

A construção do mapa temático da violência urbana de Londrina começará com o levantamento do tipo de violência e da localidade ocorrida. Assim, o aluno poderá pontuar cada violência reportada conforme uma legenda elaborada, onde:

  • Furtos /Assaltos

  • Seqüestro, Tráfico de Drogas e Prostituição

  • Homicídios / Estupros

Dessa forma será confeccionado um mapa onde estarão pontuados os tipos e as características de cada violência.

Por seguinte, serão analisadas as localidades com maiores freqüências de violências, onde servirão para uma explicação da evolução urbana de Londrina e o porquê do fenômeno da violência urbana se diferenciar espacialmente pelos bairros que possuem níveis econômicos e sociais bem discrepantes.

Dando continuidade a explicação da violência urbana de Londrina, será realizado em uma terceira aula, algumas colocações de como que a violência, principalmente aquelas intrínsecas a periferia são tornadas formas de expressão cultural, seja para denunciar essa violência, seja para mostrar qual o seu território e sua ligação com as pessoas que ali vivem.

Dando continuidade a explicação da violência urbana de Londrina, será realizado em uma terceira aula, algumas colocações de como que a violência, principalmente aquelas intrínsecas a periferia são tornadas formas de expressão cultural, seja para denunciar essa violência, seja para mostrar qual o seu território e sua ligação com as pessoas que ali vivem.

Assim, aqui se encontra uma letra do grupo Facção Central, intitulada: O Circo Chegou, de composição do Sociólogo Eduardo:

O circo chegou Respeitável público, sra e srs, meninos e meninas, sejam bem vindos ao nosso circo. No picadeiro teremos palhaços, acrobatas, pernas de pau, trapezistas, malabaristas, equilibristas, números de ilusionismo, truques de mágica e domadores. Ria quem puder, seja feliz quem for capaz, há, há, há. Nas jaulas não temos tigres nem leões, temos seres humanos confinados em cubículos super lotados, sonhando com a agilização do seu processo, com advogado competente, com alvará de soltura. Pras crianças, não temos hot dog, amendoim, paçoca, salgadinho, aliás as crianças aqui morrem de inanição, sem leite, feijão, carne, com desnutrição extrema. Aqui o tiro não é na lata e o vencedor ganha um ursinho, o tiro é de uru, sig sawer, ar 15, famas, no agente penitenciário, na tentativa da quadrilha em resgatar seus comparsas. È de ciclop, carabina, na cara do gambé da civil, na fuga do itaú, de golf com a lataria furada na bala, igual um queijo suíço. O tiro é de 762 do rato cinza, filho da puta, no menino negro desarmado, que pela cor foi considerado bandido. Levam ele pro p s, na viatura simulando ajuda humanitária, ajuda humanitária um caralho cusão, eu sei qualé que é, eu conheço sua cartilha, eu sei como você ganha suas medalhas de honra ao mérito porco imundo. Você tira o corpo do local do crime, planta provas contra a vitima e é impossível fazer a perícia. Não é o homem bala no canhão não, é a criança de 13 anos de rugger, defendendo a boca que ela vende droga, pra quadrilha rival não invadir. De manhã vai ser mais um defunto, sem comoção do apresentador de tv, sem 1 minuto de silêncio no estádio. Vai ser mais uma estatística em algum seminário, fórum, debate, mas nenhum artista, nenhuma instituição governamental, vai soltar uma pomba branca em seu nome na frente do masp. A perna de pau aqui serve pra andar na enchente, pra não pegar leptospirose, só não serve em caso de soterramento. Em caso de soterramento, você tem que ligar no celular do político na ópera em milão. O monociclo é substituído pela strada, pela twister, pela 900, que para do lado do utilitário touareg, e vara a blindagem nível 3 imbra, do empreiteiro com uma ponto 50. Esse cheiro de churrasco é de carne humana, é o pilantra que sumiu com parte da coca, é o nóia que não pagou a pedra que pegou fiado, é o estuprador, é o cagueta, o talarico, o rato de varal. È algum safado, julgado, condenado e executado no tribunal da favela. Que pena que nessa churrasqueira também não virem cinzas, vereadores, deputados, senadores, ministros e presidente. Os palhaços aqui são o povo, que elegeu um presidente com a campanha financiada no caixa 2, pelos bingos, fábricas de armas, cervejarias, indústrias de cigarros, empreiteiras. Empresas que sempre tem o retorno do seu investimento, no mandato do seu boneco, seu fantoche, seu robô eleito. O ilusionismo fica por conta das cpis, que tiram pizzas da cartola, o resultado delas, é a parte humorística da nossa apresentação. No malabarismo temos crianças com seus malabaris, tentando ganhar 10 centavos no vidro do carro no farol. O acrobata aqui se acotovela numa fila kilométrica de 385 mil pessoas tentando uma vaga em 1200 disponíveis pra gari. Temos um casting vasto de números de mágica: Sobreviver com um salário mínimo, não traficar passando fome, mesmo com um pagamento de r$ 500,00 por semana, não assaltar desempregado com os filhos sonhando com brinquedos, roupas, danone, bolacha recheada, chocolate, café da manhã, almoço e janta. Também contamos com truques com maior grau de dificuldade, truques pra deixar o matemático oswald de souza catatônico, atenção expectadores, por que esses poucos conseguem: Fazer sumir os milhões do cofre da empresa de valores, se transformar de menino pobre que teoricamente morreria de fome, em dono do brasil, em rei na hierarquia do crime, com um trono num castelo de cocaína. Espero que a platéia goste do circo que mata 100 pessoas todo dia com arma de fogo, que é o 63º em desenvolvimento humano, que é o 6º mais desigual do mundo. Que tem a policia que mata 3 mil pessoas por ano, que segundo a unicef, tem 6 milhões de crianças vivendo em severa degradação das condições humanas. Que vende pro exterior propaganda falsa do país do carnaval, do futebol, vende seu ar afrodisíaco, suas belezas naturais, pra que o turista venha fazer sexo com as crianças que se prostituem à luz do dia em cada esquina brasileira. Aí playboy, constrói seu banker, com vidro blindado, porta de aço balístico, com fechadura de nove dentes, põem no seu jardim sensores de movimento, câmeras, cão de guarda e um vigia na guarita que o show já começou. Expectadores coloquem as balas no pente da glock, na fita da metralhadora, no tambor do 38, deixem sair todo ódio contido no coração. Decapitação, eletrocussão, esquartejamento, degolação, carbonização, não importa de que forma você usa seu surto psicótico, o que interessa é que todos naufraguem no dilúvio de sangue. Porque só assim se realiza: O espetáculo do circo dos horrores.

As letras das canções são ferramentas, no qual podemos por meio delas identificar uma representação de fenômenos espaciais que expressam indignação e resistência (RENNÓ, LACERDA e OLIVEIRA, 2007), ou seja, uma via de análise das diferentes territorialidades expressas de diversas formas – uma delas são as letras de canções nos diferentes estilos musicais que atentam para essa interpretação. Como podemos notar na letra acima, o processo histórico descrito revela a continuidade de um processo de negação e exclusão à maioria de uma população na maior parte desfavorecida atentando ao fato da não intervenção do Estado, perpetuando assim, o não-cidadão.

A última abordagem levada em sala de aula, se refere a um mapa que pontua as localidades mais violentas no sítio urbano de Londrina. Essa atividade tem como finalidade demostrar que as territorialidades da violência são possiveis de cartografar e também de elucidar as espacialidades contidas, ou seja, as informações presentes no mapa que se referem a um ponto violento da cidade de Londrina, são localidades que podem fazer parte do cotidiano de muitos alunos.

Resultados

Cabe ressaltar que este estudo resultou de uma atividade vinculada a disciplina de Ensino de Geografia e Estágio de Vivência Docente e por isso, ainda não foi aplicada nas escolas, pois o objetivo era desenvolver a proposta junto aos alunos de graduação em Geografia da UEL, para após correções, ser empregada no Ensino Médio.

Tendo em vista que o público alvo em sua maioria são adolescentes, a proposta dessa atividade procura conscientizar os mesmos para uma forma de criar alternativas para que os alunos olhem para seu espaço não como parte do problema denominado violência, mas sim agentes diretos na amenização ou solução dos problemas que geram a violência urbana

No entanto, a discussão sobre as ocorrências de violência urbana e a sua pertinência na realidade de cada um, tendo como foco trazer a tona a discussão, a proposta acima é um indicativo de uma ferramenta pedagógica para trabalhar a violência urbana dentro do território de sala de aula e frente aos próprios desafios que essa temática nos impõe.

Referências

FACÇÃO CENTRAL. O Circo Chegou. Disponível em: . Acesso em: 02 de set. 2008.

LONDRINA. Prefeitura Municipal – Secretaria de Meio Ambiente. Programa O Rio da Minha Rua.

MOREIRA, Ruy. As categorias espaciais da construção geográfica das sociedades. In Geographia, Programa de Pós Graduação em Geografia; Niterói: UFF, ano 3, nº 5, 2001.

______________. Da região à rede e ao lugar: a nova realidade e o novo olhar geográfico sobre o mundo. In. ______________. Para onde vai o pensamento geográfico? Por uma epistemologia critica. São Paulo: Contexto, p. 158-177, 2006.

______________. O espaço e o contra-espaço: as dimensões territoriais da sociedade civil e do Estado, do privado e do público na ordem espacial burguesa. In. Território, Territórios. PPGEO; Niterói: DP&A, p. 72-107, 2002.

______________. Os períodos técnicos e os paradigmas do espaço do trabalho. In. Ciência Geográfica; Bauru, nº IV, v. II – (16), maio/agosto, p. 4-8, 2000.

______________. Ser-tões: o universal no regionalismo de Graciliano Ramos, Mário de Andrade e Guimarães Rosa (um ensaio sobre a geograficidade do espaço brasileiro) In. Ciência Geográfica; Bauru, nº X, v. X – (3), setembro/dezembro, p. 186-194, 2004.

______________. Sociabilidade e Espaço (as formas de organização geográfica das sociedades na era da Terceira Revolução Industrial – um estudo de tendências). In. Agrária; São Paulo: nº 2, p. 93-105, 2005.

RAFFESTIN, Claude. Língua e Poder. In. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993, p. 97-118.

RENNÓ, Alexandre Nícolas; LACERDA, Leonardo Mamede de; OLIVEIRA, Rafael Cícero de. Campesinato, Transformações e Conflitos no Campo Brasileiro: as letras de canções como veículo de denúncia. In: III Simpósio Internacional de Geografia Agrária/ IV Simpósio Nacional de Geografia Agrária – Jornada Orlando Valverde. s/n, 2007, Londrina. Anais.

RODRIGUES, Arlete Moisés. A violência urbana e a Geografia. In: Geografia em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002.

SANTOS, Milton. A natureza do Espaço – Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Edusp, 4ª Edição, 2004.

______________. Por uma Geografia Nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1978.

VENTURELLI, Ricardo Manffrenatti. Elementos Representativos do Espaço Geográfico em Obras Teatrais: Algumas Considerações. In: XV Encontro Nacional de Geógrafos – AGB. São Paulo: Anais..., 2008


[1] Trabalho oriundo de uma oficina Didático-Pedagógica proposta na Disciplina de Ensino de Geografia e Estágio de Vivência, do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina.